Para a psiquiatria os tipos de personalidade, ou os tipos psicológicos, são classificados de acordo com o conjunto de traços que caracterizavam a maneira de ser da pessoa, o modo como a pessoa interage com seu mundo objectual, ou seja, como o sujeito se relacionava com o objeto.
Carl Jung (1875 – 1961) classificava as pessoas em dois tipos básicos de atitude (dos quais também derivam vários subtipos), a extroversão e a introversão, de origem biológica. A extroversão, segundo ele, era governada por expectativas e necessidades sociais, estando orientada para a adaptação e reações exteriores, enquanto a introversão teria sua energia dirigida para os estados subjetivos e processos psíquicos. A extroversão, segundo Jung, era mobilizada por expectativas e necessidades sociais, estando orientada para reações exteriores, enquanto a introversão teria sua energia dirigida para os estados subjetivos e processos psíquicos.
Alfred Adler (1870 – 1937) reconhecia quatro tipos de temperamento, os quais, de certa forma, foram ainda baseados em Galeno, porém, definidos de acordo com o interesse social e nível de energia manifestado pelas pessoas. Adler denominava tipo governante as pessoas com certo nível de agressividade, tirania e dominação, correspondendo ao tipo colérico de Galeno. Falava do tipo dependente, para pessoas sensíveis, que se acomodam em uma concha existencial para se protegerem dos eventos externos. O tipo dependente possui baixos níveis de energia, são cronicamente cansados, pouco dispostos e correspondem ao tipo fleumático de Galeno.
O terceiro tipo de Adler é chamado de evitação e representa pessoas que tendem a se afastar do contato direto com os outros e com as circunstâncias. Essas pessoas também têm níveis baixos de energia, são predominantemente tristes e correspondem ao tipo melancólico de Galeno. Finalmente o tipo socialmente útil, representando as pessoas saudáveis, que apresentam interesse social e energia, atléticas e vigorosas, relacionadas ao tipo sanguíneo de Galeno.
Alguns traços de personalidade, de fato, parecem ter uma potencialidade geneticamente determinada, faltando saber com que probabilidade esse potencial se desenvolverá ou não na vida da pessoa. O sequenciamento do genoma humano permitiu que cientistas identificassem uma série de genes relacionados ao comportamento. Foram mapeados genes relacionados à tendência para adquirir certos traços de personalidade, ou a desenvolver hábitos ou vícios – desde que tais genes sejam "disparados" por estímulos ambientais durante a vida da pessoa.
A mais recente pesquisa dos genes relacionados ao comportamento humano foi conduzida pela Universidade de Essex, na Inglaterra, e se refere ao gene responsável pelo transporte da serotonina, um neurotransmissor associado à tonalidade afetiva, bem como ao bem-estar e felicidade, entre outros sentimentos e sensações. Esses genes estariam relacionados à maneira como cada um processa as informações positivas ou negativas – ou seja, à tendência a ser otimista ou pessimista.
Os trabalhos da geneticista brasileira Mayana Zatz da Universidade de São Paulo, em parceria com o geneticista João Ricardo de Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco, em pesquisas para tentar descobrir a influência genética de doenças psíquicas levaram à descoberta do gene do otimismo. Isso pode nos fazer mais tolerantes com quem teima em ver apenas o lado negativo do mundo. Para a psiquiatria essas descobertas embasam o tratamento do mau humor (distimia) com medicamentos que aumentam o nível da serotonina, geralmente antidepressivos.
Por conta desse gene do otimismo a revista Veja cogita, em um toque de bom humor, se o carnaval brasileiro não teria uma origem genética, já que entre os brasileiros o gene bom humor é encontrado em 40% das pessoas – um verdadeiro recorde se comparado aos ingleses, com apenas 16% de portadores. O pesquisador Ricardo Kanitz, da PUC do Rio Grande do Sul, atribui esse índice de otimismo dos brasileiros à mistura de etnias e nacionalidades da qual se compõe nosso país. De qualquer maneira, felizmente ou infelizmente, parece claro que o brasileiro é mais propenso a olhar o mundo com certo otimismo.
Passo a passo a ciência descobre que a genética pode influir muito na formação das características e no comportamento das pessoas. Talvez as pessoas com índole calma ou explosiva tenham uma participação genética importante em seu comportamento, muito além do comportamento aprendido. Como neste caso, a ciência se preocupará em ir a fundo ao caso da homossexualidade, da inteligência, dos comportamentos obsessivos, histéricos, fóbicos e assim por diante.
O que se pretende, hoje em dia, é que os pesquisadores não tenham de optar pelo sistema orgânico ou psicológico, como acontecia antes. Não cabem mais, de um lado os defensores da tese de que nascemos todos iguais e a personalidade se forma pelo aprendizado e pelas experiências pessoais e, de outro lado, defensores de que os traços da personalidade são definidos pela herança genética, assim como a cor dos olhos.
A genética do comportamento vem mostrando que não só o ambiente e nem só o DNA formam a personalidade. Atualmente considera-se que os traços tenham um componente genético, porém, sua manifestação depende de fatores ambientais. O gene carrega o traço, mas é o ambiente que puxa o gatilho para ele se manifestar. De qualquer forma, já se tem certeza de que os genes são capazes de influenciar o comportamento humano. Já foram encontrados genes que tornam as pessoas mais vulneráveis a comportamentos agressivos ou a sofrer transtornos psíquicos. Também foram detectados genes relacionados à orientação sexual e a vícios como alcoolismo e tabagismo.
A presença desses genes, entretanto, não significa que a pessoa obrigatoriamente desenvolverá o comportamento ligado a ele. O que existe é uma predisposição, geralmente influenciada pelas experiências pessoais, familiares e pelo ambiente em que a pessoa vive. Ter predisposição genética à depressão, por exemplo, não basta para a pessoa ficar deprimida, pois os mesmos genes são encontrados também em pessoas não deprimidas.
Para os genes ligados aos traços se manifestarem outros fatores são necessários, tais como as vivências, o ambiente social, as condições de saúde geral e assim por diante. Os traços de personalidade, porém, são produtos de muitos genes – e não de apenas um, como ocorre com a maioria das características físicas e das doenças.
Os estudos com gêmeos têm revelado a natureza hereditária do perfil emocional das pessoas. Esses experimentos permitiram concluir que as principais características da personalidade – como introversão ou extroversão, vulnerabilidade à neurose ou estabilidade emocional, abertura ou não a experiências, atenção ou dispersão – são em média 50% herdadas.
Mesmo em atitudes culturais como a religião, por exemplo, o impacto dos genes é muito forte. O conservadorismo político, outro exemplo, é um traço que, segundo estudos da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, tem 60% de influência genética. Os pesquisadores dessa universidade vêem acompanhando 8.000 gêmeos, três centenas deles são gêmeos idênticos e separados da família no nascimento há mais de 20 anos. Os resultados surpreendem ao mostrar que certos comportamentos antes considerados fruto do aprendizado são fortemente influenciados pela genética.
"PERSONALIDADE É A ORGANIZAÇÃO DINÂMICA DOS TRAÇOS NO INTERIOR DO EU, FORMADOS A PARTIR DOS GENES PARTICULARES QUE HERDAMOS, DAS EXISTÊNCIAS SINGULARES QUE EXPERIMENTAMOS E DAS PERCEPÇÕES INDIVIDUAIS QUE TEMOS DO MUNDO, CAPAZES DE TORNAR CADA INDIVÍDUO ÚNICO EM SUA MANEIRA DE SER, DE SENTIR E DE DESEMPENHAR O SEU PAPEL SOCIAL".