sábado, novembro 28, 2015

Os idosos e a solidão




Muito frequente tenho atendido pessoas idosas que reclamam de falta de atenção por parte de seus familiares. Esses idosos, pessoas que deram sua contribuição na formação de um mundo melhor, ou pelo menos de um lar melhor e hoje se acham em muitos casos abandonados. Somos criados por um Deus perfeito, justo e bom, portanto ele nos fez com os mesmos requisitos, se talvez cometemos erros o objetivo sempre é o melhor.
Naturalmente a pessoa idosa em sua maioria não é dotada do mesmo ritmo, do mesmo conhecimento tecnológico, por isso muitas vezes para os mais jovens parece incomodo o diálogo, as histórias repetidamente contadas, enfim os verbetes "fora de moda". O choque de faixas etárias é quase sempre o motivo do afasatamento da pessoas idosa, fazenda dela não inclusa nos programas diários da família, por isso apesar de morar numa casa com várias pessoas, o idoso se sente só.
Esse estado mental da pessoa idosa requer cuidados mais específicos, requer maior atenção, pois além da fragilidade física, dos passos lentos, da voz embargada, possui um psiquismo cansado ante os entraves de muitas décadas superadas, vencidas, mas que deixaram profundas marcas no acervo psicológico.
Sob a má compreensão dessa fragilidade característica da idade, filhos, netos descendentes alegam que a pessoa idosa está "fazendo chantagem" e vão deixando que essa distância aumente a tal ponto que essa pessoa veja tudo acontecer sob seus olhos, muito embora pareça não fazer parte de nada no contexto familiar.


O isolamento por sentir preterido não tarda a aparecer carregando em si o estado de melâncolia, a depressão e as síndromes variadas, os traumas da idade madura, enfim o desconforto. Quando esse idoso não se vê parte integrante do lar, geralmente foge para um cômodo da casa que geralmente não é a sala de TV, pois seus gostos televisivos não são o da maioria da família, sendo assim ele é privado de certos prazeres tão simples como uma conversa sadia, ou mesmo assistir a um programa preferido de televisão. O idoso não quer coisas fora da possibilidade, quer carinho e atenção, deseja não ficar limitado a um quarto, a uma cama como quem espera "apenas o desencarne chegar".
Acostumado aos reveses da vida, o idoso não exige, acaba na maioria das vezes aceitando certas situações impositivas e se calando diante da "força da idade" dos mais jovens que ainda não aprenderam a respeitar a experiência e o valor dos esforços daqueles que se dedicaram profundamente para terem um envelhecer mais seguro e feliz.


Vi pessoas idosas que frequentavam todos os dias a "Casa do Idoso" local onde funcionava o Programa Municipal de Saúde do Idoso (FELIZ IDADE) onde tive a honra de coordenar. Esses idosos se agrupavam de acordo com suas simpatias e lá iam somente para conversarem, passavam horas e horas. Os que moravam mais perto iam várias vezes por dia "bater o ponto". Sorriso estampado, gestos mais rápidos, tudo era sintonia de qualidade de vida.
Quantas e quantas vezes me perdia observando aquele universo maravilhoso de quem muito já fez na vida e nada mais pede que uma pequena fração de carinho e atenção. Nesta inversão de valores, com a dificuldade dos jovens ingressarem no mercado de trabalho, tem crescido o endividamento dos idosos que acabam com seus poucos proventos comprometendo boa partes destes com empréstimos. Podemos dizer hoje, que em muitos lares o idoso com sua aposentadoria, depois de ter empregado toda sua força física e mental, continua sendo o provedor do lar. Vejo também esta situação atípica como mais um agravante para o estado emocional da pessoa idosa que quando deveria merecidamente repousar da correria da vida, acaba mantendo as mesmas preocupações econômicas de quando era mão de obra economicamente ativa. Isso sem contar os cálculos severos dos governos que cada dia tornam a aposentadoria um "direito" mais distante da população brasileira, chegando a crueldade de permitir que  a maioria dos contribuintes não chegue a gozar com saúde da prerrogativa de se aposentar. Quando falamos em aposentadoria, não me refiro a inatividade, termo que inclusive acho deprimente, pois traz um sentido de paralisia ante a vida, mas a aposentadoria como direito líquido e certo de depois de anos em esforços continuados poder colher um pouco do que foi plantado. Em muitos lares, os idosos são mantidos para arcar com as despesas da casa, pois se assim não o fosse muitos já estariam relegados a uma instituição de internação que merecem nosso respeito e admiração, muito embora para quem abandone um idoso seu, penso que merecem nossa precupação, pois são almas mais que doentes.
Enquanto cristãos, devemos observar atentamente cada gesto dos idosos que se acham a nossa volta, pois dada sua fragilidade psíquica uma palavra pode ser geradora de determinados constragimentos. Para com nossos idosos fica a mensagem sólida do texto bíblico: " Honra teu pai e tua mãe" (Êxodo 20:12).

Jefferson Leite

segunda-feira, novembro 23, 2015

domingo, novembro 01, 2015

Visita ao hospital



Era um lindo dia de sol, depois de uma semana de chuvas e névoas. Júlia, de dez anos, não via a hora de correr para brincar com seus amiguinhos, aproveitando o calorzinho agradável.
Assim, como fosse sábado e não tivesse que ir para a escola estudar, Júlia costumava reunir-se com seus amigos para brincar em uma pracinha da rua.
Aos poucos eles foram chegando, risonhos. Era um momento de alegria para todos eles. Logo, estavam todos na praça. Roberto levara sua bola; Helena, um jogo novo e Carlos, seus patins. Enfim, cada um viera trazendo o que mais gostava, até uma bola de futebol.
Entrando num acordo, resolveram que iriam jogar futebol, pois mesmo as meninas gostavam desse jogo. Assim, fizeram dois times, escolheram a posição de cada um e iam começar o jogo, quando Júlia se lembrou de algo e fez um sinal com a mão.
— Ah, Júlia! Logo agora que íamos começar! O que aconteceu? — gritou Roberto do outro lado do campo.
A menina saiu do seu lugar e foi conversar com os demais:
— Gente, eu peço-lhes desculpas, mas...
— Mas o quê? Fala logo, pois estamos perdendo tempo, Júlia! — gritou Carlos, afobado.
Tristonha, a garota esclareceu:
— Estive pensando na Andreia. Ela sempre está conosco e hoje não pode vir porque caiu e se machucou, além de quebrar a perna. Está no hospital. Não seria bom irmos visitá-la?
— Está falando sério? Vamos deixar o futebol para visitar uma doente? — retrucou Helena, irritada com Júlia.
A menina ouviu as reclamações dos amigos e, olhando cada um deles, explicou com lágrimas nos olhos:
— Eu sei que todos querem jogar bola ou fazer qualquer outra coisa, mas estive pensando. E se fosse um de nós que estivesse no hospital, sentindo dores, triste por não poder sair, tomando remédios amargos e sem fazer nada! Não ficaria contente por receber a visita dos amigos? Jesus nos ensinou que devemos fazer ao próximo o que queremos que eles nos façam, não é?
Cada um sentiu na pele as palavras de Júlia e, mesmo sem querer, começaram a se imaginar também no hospital, presos a um leito, sem poder sair e se divertir. E, o pior, sem poder ver os amigos! Trocaram um olhar indeciso, até que concordaram com Júlia:
— Está bem, Júlia. Você ganhou. Realmente ela deve estar precisando dos amigos. Mas não seria bom irmos de mãos abanando. O que sugerem? — indagou Roberto.
Todos ficaram calados pensando. Até que alguém sugeriu levar um chocolate.
— Está certo. Mas, então, vamos para casa e depois nos encontramos aqui com o que conseguimos para alegrá-la. Afinal, amanhã é o Dia das Crianças!
Assim, combinaram se encontrar dentro de meia hora e cada um foi para sua casa. Ao voltarem, satisfeitos, foram para o hospital, que não ficava muito longe dali. Cada um levava uma coisa diferente. Ao chegar, perguntaram o número do quarto e se dirigiram para lá. Bateram na porta delicadamente, e entraram.
 
Ao ver os amigos ali, com carinhas ansiosas e preocupadas, Andreia sorriu cheia de alegria:
— Vocês vieram me visitar! Estava com saudade de vocês, da escola, mas por enquanto ainda tenho que ficar aqui! Gostaria mesmo de estar na pracinha brincando. Hoje, logo cedo eu me lembrei de que é sábado e que vocês deveriam estar lá. Senti tanta falta da nossa turma!... Até chorei...
Júlia adiantou-se, abraçando-a e confortando-a:
— Logo você estará conosco, Andreia. Olhe, trouxe-lhe um livro. Espero que goste!
— Vou adorar, Júlia. Gosto muito de ler e aqui não tem nada. Como estou na área de ortopedia e precisei fazer uma cirurgia, sinto falta de ter algo para ler.
Assim, cada um aproximou-se dela entregando-lhe o que trouxera: um jogo, pacote de bolachas, revista de palavras cruzadas, balas, chocolates. Enfim, ao ver tantos pacotes, a doente deu risada, feliz da vida:
— Gente, não precisava tudo isso! Só a presença de vocês era suficiente. Na verdade, sentia falta de conversar, já que brincar não posso. Obrigada! Vocês me deram uma prova de amizade. Afinal, deixaram de brincar para vir me visitar.   
Os visitantes trocaram um olhar e Roberto reconheceu:
— Andreia, foi Júlia quem teve a ideia de virmos visitá-la. De início, não gostamos muito, pois íamos jogar futebol. Mas ela nos fez entender a importância de virmos aqui para vê-la. Afinal, você é nossa amiga!
— Agradeço-lhes. Mas, se não se incomodarem, vou repartir com outros amigos, os pacientes deste quarto, o que trouxeram. Alguns moram em outras cidades e as famílias demoram a visitá-los.
Só então eles olharam em torno e viram que mais três carinhas acompanhavam a conversa e seus olhos brilhavam diante de tantas guloseimas que Andreia ganhara.
Naquele instante ficaram emocionados com a generosidade de Andreia, que queria dividir com eles o que ganhara.
Passaram uma hora de alegria, conhecendo os outros pacientes e seus problemas, os quais, apesar de estarem internados, não demonstravam tristeza e estavam felizes por ter gente para conversar.
Retornando para casa, eles sentiam-se tão contentes por essa experiência que resolveram: todas as semanas gastariam um pouco do seu tempo para fazer visitas ao hospital e alegrar os pacientes.   

MEIMEI 

(Recebida por Célia X. de Camargo, em 10/08/15.)


Fonte: O Consolador