Não pude compreender o meu destino
Na amargura invencível do passado,
Que amortalhou meu sonho peregrino
Nas trevas de um martírio irrevelado.
Do sofrimento fiz o apostolado,
Como fizera de minha arte um hino,
Procurando o país indevassado
Do ideal luminoso de Aladino.
E fui de vale em vale, serra em serra,
Buscando a imagem fúlgida, incorpórea,
Do que chamamos –a felicidade.
Mas só colhi os frutos maus da Terra,
As promessas pueris da falsa glória,
E o triste engano da celebridade.
Poema da amargura e da esperança
Falar- vos de martírios e tormentos,
É perpetrar amargas redundâncias,
Redizer minhas mágoas, minhas ânsias,
Renovar minhas síncopes de dor...
Não sorvo mais os tóxicos violentos
Do desespero e da melancolia,
Após a derrocada
Das construções de um sonho superior.
Tudo outrora, Senhor,
Na minha pobre vida abandonada,
Era o tédio cruel que me impedia
De vislumbrar a claridade intensa
Da luz do sol puríssimo da crença,
Tudo em volta de mim era a cegueira.
Que torturou a minha vida inteira,
Que me seguiu o espírito ambicioso!
A carne é pobre e é cheia de fraqueza,
Simbolizando o ciclo tenebroso
Dassínteses de dor da Natureza.
E a carne subjugou - me inteiramente,
Fez - me fraco e descrente,
E transformou a minha mocidade
Num montéo de ambições, de fama e glória,
Adormeceu - me aos cantos da vaidade
E me afastou da estrada meritória
Da crença e da bondade...
Misericordiosíssimo Senhor!
De tortura em tortura amargurado,
O meu frágil espírito inferior
Viu- se presa de trevas, no passado,
E a desgraça suprema o amortalhou.
Tudo sofri, de dor e de miséria,
Mas a tua bondade me levou
A esquecer a influência deletéria
Da carne passageira...
Rompeste a minha venda de cegueira
E divisei o excelso panorama
Do Universo infinito, que Te aclama
Como a fonte do amor ilimitado!
Relevaste, meu Deus, o meu pecado
E pude ouvir as harmonias puras
Que equilibram os mundos n as alturas!...
Cheio de amaridúlcida ansiedade,
A esperança o espírito me invade
Aguardando das lágrimas futuras
A minha redenção...
Que a confiança, pois, em Ti me anime,
Que no porvir a dor bela e sublime
Jorre em minhalma a luz da perfeição.
Hermes Fontes
SERGIPANO, nasceu na Vila de Boquim, em 1888, e suicidou - se no Rio de Janeiro aos 26 de dezembro de 1930. Poeta de
grande relevo emocional, deixou firmada sua personalidade literá-ria, tendo publicado Apoteoses, Gênese, Lâmpada Velada e Fonte
da Mata, seu último livro.
Livro Parnaso de Além-Túmulo, Obra Francisco Cândido Xavier
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