quarta-feira, abril 03, 2013

A semente



Olavo, menino de sete anos, irrequieto e sem paciência, não conseguia realizar suas pequenas tarefas, reclamando de tudo. 

Sentava-se para fazer os deveres da escola, mas em poucos minutos largava o lápis, irritado, alegando: 
— Esta tarefa é muito difícil! Não sei fazer. 
Convidado pelos colegas para assistir a um filme, logo se mostrava impaciente, reclamando: 
— Este filme é muito comprido! Não aguento mais! 
Ao ser chamado para jogar bola, em pouco tempo estava cansado da brincadeira: 
— Este jogo não acaba nunca! Vamos brincar de outra coisa? 
A mãe, preocupada com o comportamento do filho, ouvia suas reclamações, aconselhava-o a ter paciência e a se esforçar mais, sem conseguir resultado algum. 
Certo dia ela resolveu levá-lo para passear. 
Era primavera. Caminhando por uma praça, Olavo ficou encantado com uma árvore florida e exclamou: 
— Veja, mamãe, que árvore grande e bela! Suas flores são lindas e perfumadas!    
Mais adiante, Olavo parou diante de uma estátua recentemente inaugurada. A escultura homenageava um pioneiro da cidade, reproduzindo sua figura em tamanho natural. Olavo, admirado diante da estátua, comentou: 
— Veja, mamãe, que estátua bonita. Parece ter vida! 
Logo em seguida, passaram por uma grande pedra que compunha a ornamentação do jardim, e o menino considerou: 
— Já esta pedra não serve para nada! 
A mãezinha, aproveitando a ocasião, explicou: 
— Engana-se, meu filho. De uma pedra bruta como esta é que o artista fez aquela escultura que você admirava há pouco. 
— Como será que o artista consegue fazer um trabalho tão bonito? 
A mãe sorriu e respondeu: 
— Certamente gasta muito esforço e tempo. 
E apanhando uma vagem no chão, abriu-a, retirou uma das sementes e colocou-a na palma da mão do menino, considerando: 
— Tudo na vida depende de esforço, meu filho. De uma pequena semente como esta é que nasceu a árvore enorme e bela que você está vendo. Representa o esforço conjugado da natureza e do homem, pois alguém cuidou dela para que se desenvolvesse. 
O garoto teve uma ideia e disse, animado: 
— Vou levar esta semente e plantá-la em nossa casa. Quero vê-la crescer logo!  
— Boa ideia, meu filho. Porém, não tenha pressa. Serão precisos muitos anos para que esta pequena semente se transforme em uma árvore. Mas você terá a oportunidade de vê-la nascer, crescer e se desenvolver. 
Olavo ficou decepcionado. 
— Gostaria que crescesse logo! 
— Nada acontece de um dia para o outro, meu filho. Tudo que formos fazer demanda esforço, tempo e boa vontade. Você já viu um prédio surgir de repente, uma ponte ser construída do dia para a noite? 
— Não. Nem a tarefa da escola se revolve sozinha. 
— Isso mesmo. A natureza precisa de tempo para realizar seu trabalho, e nós também. Então, vá em frente. Plante sua semente e verá como é lindo vê-la crescer. 
Delicadamente, Olavo levou a semente em sua mão. Chegando em casa, sob a orientação da mãe, ele abriu um buraco, depositou a semente, cobriu-a com terra e regou. 
Todos os dias, logo ao acordar, Olavo ia ver o local onde tinha plantado sua semente. Um dia, deu pulos de alegria: um brotinho estava apontando. 
Depois, com satisfação Olavo acompanhou o desenvolvimento da plantinha, que todo dia crescia
um pouco, até que passou em muito a altura de Olavo. 
Aquele menino irrequieto e impaciente aprendeu com aquela semente que tudo tem um tempo certo na vida e que não adianta atropelar as coisas. 
Olavo tornou-se bom aluno na escola e alguns anos depois, já moço, foi estudar em outra cidade. 
Ao voltar, encantou-se com o que viu. Sua sementinha transformara-se numa linda e frondosa árvore, cheia de perfumadas flores.  
Olhando o tronco possante, os galhos frondosos que permitiam sombra e frescor, as lindas flores que enfeitavam a frente de sua casa, Olavo disse à suaárvore, emocionado:
 
— Nós dois crescemos e já estamos produzindo. Eu, porque consegui terminar a faculdade, e você, porque nos alegra com suas flores e sua sombra. Aprendi muito com você, querida amiga. Obrigado! 
Aproximou-se e, abraçando o belo tronco, encheu-o de beijos.
                                                        

(Célia X. de Camargo)  Revista O Consolador                  

Nenhum comentário:

Postar um comentário