segunda-feira, fevereiro 25, 2013

Ainda hoje enfermeira que trabalhou com a médica acusada de praticar eutanásia pode se entregar


"Na manhã de terça-feira (19), policiais civis do Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde de Curitiba prenderam a chefe da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de um dos mais importantes hospitais do Paraná. A médica Virgínia Helena Soares de Souza, de 56 anos, é suspeita de antecipar a morte de pacientes internados na unidade. As investigações começaram há um anos, após denúncias de funcionários do próprio hospital.




O caso da médica responsável que é acusada de praticar eutanásia em pacientes internados na UTI que estava sob sua responsabilidade vem chamando a atenção da mídia e nos convidando a uma reflexão sobre tão discutido tema como a antecipação da morte de pessoas em grave estado de saúde não só no Brasil como em todo o mundo. Os povos primitivos viam na eutanásia uma forma de alívio das enfermidades, portanto era comum essa prática em muita sociedades. Os Celtas por exemplo tinham em sua cultura o “hábito que os filhos matassem os seus pais quando estes estivessem velhos e doentes” e na Índia, “os doentes incuráveis eram levados até a beira do rio Ganges, onde tinham as suas narinas e a boca obstruídas com o barro”. Posteriormente coube à Grécia a discussão do tema pela filosofia de Sócrates, Platão e discípulos, dando um sentido mais abrangente e racional ao assunto. Não podemos negar quem em alguns pontos do mundo a eutanásia foi legalizada, tornando-se um direito subjetivo da pessoa humana. Nos EUA, a Califórnia e o estado de Oregon, Holanda, Bélgica, Suíça e Áustria, onde já é legal. Especificamente nos casos da Califórnia e no estado de Oregon existe o chamado “living will”, que é um testamento biológico, que nega os cuidados paliativos, e o desejo de morrer com dignidade, a Califórnia foi a primeira a legalizar este testamento em 1976.Na Suíça o suicídio assistido é tolerado e está previsto na lei. Existe neste país uma associação, a que os suíços deram o nome de “Exit”, que conta com o apoio de cerca de 60 mil pessoas, cujo a sua função é prestar atenção e cuidados ao doente que solicite a morte assistida. Na Áustria, existia uma lei que estabelecia o suicídio assistido, mas foi anulada em 1997. 

A eutanásia representa uma complicada questão entre a bioética e o  biodireito, pois enquanto o Poder Público tem como princípio a proteção da vida dos seus cidadãos, existem aqueles que, devido ao seu estado precário de saúde, desejam morrer com o objetivo de se verem livre do "sofrimento". Na concepção religiosa  esse ato é visto como usurpação do direito à vida humana, devendo ser um exclusivo reservado ao Senhor, ou seja, só Deus pode tirar a vida de alguém. "algumas religiões, apesar de estar consciente dos motivos que levam a um doente a pedir para morrer, defendem acima de tudo o caráter sagrado da vida. Na Europa do século XX , pensou-se em usar este procedimento para eugenia, eliminando assim os que para a sociedade não são “prósperos”, sendo uma verdadeira matança. Nos casos citados no Hospital Universitário Evangélico de Curitiba não se sabe o que teria motivado a médica se caso ficar confirmada sua autoria ou participação nos possíveis crimes. Mais três médicos que trabalhavam na UTI do Hospital Evangélico, em Curitiba, foram presos,sendo eles Edison Anselmo Silva Junior, Maria Israela Cortez Bocato e Anderson de Freitas, sendo todos três, anestesistas. A médica Virgínia Helena Soares de Souza já foi indiciada por “antecipar óbitos”e  se encontra sob a tutela da justiça na cela do Centro de Triagem de Piraquara. O hospital onde ela trabalhava chegou a transferir da UTI 13 médicos e 34 funcionários que trabalharam com a médica. Segundo o delegado chefe da polícia civil do Paraná, dr. Marcus Michelotto pode ser uma "quadrilha da morte" que atuava no hospital. O referido inquérito que trata do assunto corre sob segredo de justiça. Ao que tudo consta ainda hoje uma enfermeira que trabalhou com a médica deve também se entregar. 

Para falarmos de respeito à vida não podemos aceitar a antecipação da morte de quem quer  que seja, contudo esse hábito é mais comum do que se imagina. Quando um animal adoece e se julga ser terminal seu estado, logo vem a idéia de "sacrificar" o animalzinho com a finalidade de encerrar o sofrimento e o pior, é que geralmente isso acontece, ou seja a eutanásia do animal. Ora, se cremos que "não cai uma folha sem que seja pela vontade de Deus" como tentar abreviar qualquer forma de vida na Terra? Em outras ocasiões quando alguém adoece, achando-se com muito "sofrimento", pede a Deus para desencarnar...é um contra senso para quem crê na Divindade. Outros, os familiares oram para "libertar" seus entes queridos quando esses estão enfermos. São atitudes que vemos todos os dias e vão se tornando comuns, mas que em verdade mostram a não aceitação aos designos superiores e a não resignação para com a Inteligência Suprema e Causa Primária do Universo.
A mudança de comportamento requer uma reorganização de nossas idéias frente a busca da perfeição relativa. Sem adentrarmos o mérito se existe ou não culpa por parte da drª Virgínia Helena Soares de Souza, uma vez que a mesma já está sendo investigada pelos órgãos competentes, compete-nos fugir as tentativas de acreditar que a morte é alívio das aflições no planeta ou fuga dos sofrimentos físicos. A vida não se findando no túmulo nos convida a compreendermos o momento certo de retorno, pois a evolução só se processará dessa forma em nós e nos outros. Quando estivermos diante de uma pessoa amiga ou familiar, mantenhamos a certeza de que a pessoa que amamos se acha passando por um momento, mas Deus que tudo sabe, vê e coordena não permite que nenhum ser padeça sem a devida importância para seu próprio progresso. Mantenhamos a esperança e a certeza de que a vida é o grande milagre não devendo ser furtada sob o pretexto de livrar quem quer que seja dos sofrimentos do organismos, pois maiores são os sofrimentos da alma.

"Nunca é lícito matar o outro: ainda que ele o quisesse, mesmo se ele o pedisse (…) nem é lícito sequer quando o doente já não estivesse em condições de sobreviver" 
Santo Agostinho 

Jefferson Leite




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