segunda-feira, outubro 07, 2013

O bem ao próximo




Carminha, de doze anos, e coração bondoso, morava com os pais em pequena casa de um bairro pobre da cidade.
Certa vez, ela lera que Jesus, quando na Terra, pregara o amor a Deus, ao próximo e até aos inimigos, para que seus seguidores pudessem ser melhores do que as outras pessoas.
Então, Carminha desejava fazer algo de bom para alguém, mas não sabia como começar. À noite, ela orava a Jesus pedindo-lhe que a ajudasse mostrando-lhe o caminho da caridade. 
Certo dia, andando pelo bairro, ela entrou por pequena rua que terminava numa cerca. Como não havia rua, mas querendo conhecer o local, ela entrou por uma trilha e viu um casebre. Ouviu barulho de crianças e, como ali ela conhecia toda gente, menos aquelas pessoas, resolveu conhecê-las.
— Olá! Tem alguém aí? — disse batendo na porta.
Logo três crianças sujas e esfarrapadas apareceram. Carminha sorriu e perguntou-lhes os nomes.
— Eu sou Maria, de seis anos, o bebê no meu colo é Luzia, de oito meses, e este é José, de quatro anos.
— Muito prazer! Tem mais alguém em casa? Onde estão os pais de vocês?
— Mamãe está trabalhando na roça, meu pai está preso e vovô está na cama. Quer conhecê-lo? — perguntou Maria, a maior.
— Gostaria muito. Isto é, se ele não se incomodar.
Maria levou Carminha pela mão até o pequeno quarto onde um velhinho estava deitado. Ela o cumprimentou, perguntando como estava, e ele respondeu:
 
— Estou muito doente, menina. Não posso mais andar e sou eu que fico com as crianças para minha filha trabalhar. Hoje ainda não comemos nada. Nem leite tem para a pequena Luzia, que chora de fome! 
Com o coração apertado pela piedade, Carminha disse que ia resolver o problema. Assim, ela deixou o casebre e foi
em busca das suas amizades. Andou pelo bairro explicando a situação e recolhendo gêneros alimentícios para a família. Pegou uma carriola que era do pai, e assim transportou tudo o que ganhara. Como ela tinha um cofrinho com algumas moedas, comprou leite para o bebê.
  
Voltando ao casebre, Carminha mostrou o que havia conseguido e que não era muito, pois todos ali eram pobres, mas tinha até o leite de Luzia. Ao vê-la chegar, as crianças deram pulos de alegria. Carminha distribuiu pão para todos, fez um suco com laranjas que ganhara e a mamadeira de Luzia. Todos ficaram felizes e satisfeitos.
Depois, resolvido esse primeiro problema, Carminha fez uma sopa com legumes e verduras que recebera
dos vizinhos para eles comerem mais tarde. Não contente com isso, limpou o casebre, lavou as roupas e deixou tudo limpinho.
Ao chegar, a mãe não acreditou no que viu. O vovô Bento explicou que uma mocinha viera e tinha feito tudo na casa. Tomaram a sopa, acompanhada do pão que sobrara, e depois fizeram uma oração em agradecimento pela ajuda recebida.
Carminha retornou ao seu lar sentindo-se realizada. Nada comentou com a mãe sobre o que fizera. Mas, a partir desse dia, todas as tardes, ao voltar da escola, ela corria para a casa do vovô Bento, ajudando no serviço doméstico e cuidando das crianças.
Na escola, Carminha explicou a situação da família para seus colegas e todos se prontificaram a ajudar também. Assim, apareceram panelas, cobertores e tudo o mais que era necessário, inclusive uma cama para o avô, pois a dele estava quebrada.
Os pais de Carminha estavam preocupados com o constante sumiço da filha. Um dia, a mãe chegou mais cedo do serviço e viu a filha saindo de casa com sacolas nas mãos, e resolveu segui-la. Ao ver Carminha entrar em um casebre sem pedir licença, ela entrou também. O que viu fez com que seus olhos se enchessem de lágrimas.
A filha estava entregando o que trouxera e dizia para as crianças com lindo sorriso:
— Hoje vou fazer uma sopa de legumes com macarrão! Graças a uma amiga, esta noite vocês terão uma sopa melhor.
— Oba! Oba!... — gritaram as crianças, batendo palmas.
A mãe de Carminha apareceu na cozinha. Ao vê-la, a mocinha se avermelhou:
— Mamãe? Como chegou até aqui?...
Vovô Bento, que vira pela janela a senhora chegando, levantou-se com dificuldade e foi até a cozinha.
— Por que nunca me contou o que estava fazendo, minha filha?
Carminha abaixou a cabeça, e vovô Bento explicou, apoiando-se numa bengala:
— Senhora, sua filha tem sido o nosso anjo bom. Desde que entrou nesta casa, jamais deixou de nos assistir. Como pode ver, somos muito pobres, e Carminha tem arranjado comida para nós e leite para minha netinha. Minha filha trabalha muito, mas ganha pouco e chega tarde. No entanto, sua filha não deixa que nada nos falte. Até cuida da limpeza!
— Por que nunca me contou, filha? — a mãe voltou a perguntar, emocionada.
Carminha, sem jeito, explicou:
— Porque Jesus disse que, para fazer o bem ao próximo, não podemos divulgar, isto é, que a mão esquerda não deve saber o que faz a mão direita, não é? E na verdade, mamãe, são meus amigos que fazem a caridade, porque eles é que me dão as coisas para distribuir.
 
Em lágrimas, a mãe aconchegou a filha ao coração, dizendo:
— Carminha, você é muito melhor do que eu pensava, minha filha.
— Então, ajude-me mamãe! Vamos pedir ao papai que vá visitar o pai das crianças na prisão para tranquilizá-lo. Ele deve estar muito preocupado com sua família.
 
A mãe concordou e disse:
— Daqui pra frente, eu também quero ajudá-la a fazer a caridade, minha filha. Somos pobres, mas sempre podemos ajudar a quem tem menos do que nós.  
                                                        MEIMEI 

(Recebida por Célia X. de Camargo, em Rolândia, aos 19/9/2013.)


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