quarta-feira, setembro 04, 2013
Irmão X
Certo discípulo, extremamente aplicado ao Infinito Bem, depois de largo tempo ao lado do Divino Mestre recebeu a incumbência de servi-lo entre os homens da Terra.
Desceu da Esfera Superior em que se demorava e nasceu entre as criaturas para ser carpinteiro.
Operário digno e leal, muita vez experimentou conflitos amargurosos, mas, fervoroso, apegava-se à proteção dos santos e terminou a primeira missão admiravelmente.
Tornou ao céu, jubiloso, e recebeu encargos de marinheiro.
Regressou à carne e trabalhou assíduo, em viagens inúmeras, espalhando benefícios em nome do Senhor.
Momentos houve em que a tempestade o defrontou ameaçador, mas o aprendiz, nas lides do mar, recorria aos Heróis Bem-Aventurados e entesourou forças para vencer.
Rematou o serviço de maneira louvável e voltou à Casa Celeste, de onde retornou ao mundo para ser copista.
Exercitaram-se, então, pacientemente, nos trabalhos de escrita, gravando luminosos ensinamentos dos sábios; e, quando a aflição ou o enigma lhe visitaram a alma, lembrava-se dos Benfeitores Consagrados e nunca permaneceu sem o alívio esperado.
Novamente restituído ao Domicílio do Alto, sempre louvado pela conduta irrepreensível, desceu aos círculos de luta comum para ser lavrador.
Serviu com inexprimível abnegação à gleba em que renascera e, se as dores lhe buscavam o coração ou o lar, suplicava os bons ofícios dos Advogados dos Pecadores e jamais ficou desamparado.
Depois de precioso descanso, ressurgiu no campo humano para exercitar-se no domínio das ciências e das artes.
Foi aluno de filosofia e encontrou numerosas tentações contra a fé espontânea que lhe sustentava a alma simples e estudiosa; todavia em todos os percalços do caminho, implorava a cooperação dos Grandes Instrutores da Perfeição, que haviam conquistado a láurea da santidade, nas mais diversas nações, e atravessaram ilesas, as provas difíceis.
Logo após, foi médico e surpreendeu padecimentos que nunca imaginara. Afligiram-se milhares de vezes ante as agruras de muitos destinos lamentáveis; refugiou-se na paciência, pediu socorro dos Protetores da Humanidade e, com o patrocínio deles, venceu, mais uma vez.
Tamanha devoção adquiriu que não sabia mais trabalhar sem recurso imediato ao concurso dos Espíritos Glorificados na própria sublimação.
Para ela, semelhantes benfeitores seriam campeões da graça, privilegiados do Pai Supremo ou súdito favorecidos do Trono Eterno. E, por isso, prossegui trabalhando, agarrando-se-lhes à colaboração.
Foi alfaiate, escultor, poeta, músico, escritor, professor, administrador, condutor, legislador e sempre se retirou da Terra com distinção.
Vitorioso em tantos encargos foi chamado pelo Mestre, que lhe falou, conciso:
- Tens vencido em todas as provas que te confiei e, agora, podes escolher a própria tarefa.
O discípulo, embriagado de ventura, considerou sem detença:
- Senhor, tantas graças tenho recebido dos Benfeitores Divinos, que, doravante, desejaria ser um deles, junto da Humanidade...
- Pretenderias, porventura, ser um santo?- indagou o Celeste Instrutor, sorrindo.
- Sim... - confirmou o aprendiz extasiado.
O senhor, em tom grave, considerou:
- O fruto que alimenta deve estar suficientemente amadurecido... Até hoje, na forma de operário, de artista, de administrador e orientador, tens estado a meu serviço, junto dos homens, junto de mim. Há muita diferença...
Mas, o interlocutor insistiu, humilde, e o mestre não lhe negou a concessão.
Renasceu, desse modo, muito esperançoso, e, aos vinte anos de corpo físico, recebeu do Alto o manto resplandecente da santidade.
Manifestaram-se nele dons sublimes.
Adivinhava, curava, esclarecia, consolava.
A inteligência, a intuição e a ternura nele eram diferentes e fascinantes.
E o povo, reconhecendo-lhe a condição, buscou-lhe, em massa, as bênçãos e diretrizes. Bons e maus, justos e injustos, ignorantes e instruídos, jovens e velhos, exigiram-lhe, sem consideração por suas necessidades naturais, a saúde, o tempo, a paz e a vida.
Na categoria de santo, não podia subtrair-se à luta, nem desesperar, e por mais que fosse rodeado de manjares e flores, por parte dos devotos e beneficiários reconhecidos, não podia comer, nem dormir, nem pensar, nem lavar-se. Devia dar, sem reclamação, as próprias forças, à maneira da vela, mantendo a chama por duas pontas.
Não valiam escusas, lágrimas, cansaço e serviço feito.
O povo exigia sempre.
Depois de dois anos de amargosa batalha espiritual, atormentado e desgostoso, dirigiu-se em preces ao Senhor e alegou que a capa de santo era por demais espinhosa e pesava excessivamente.
Reparando-lhe o pranto sincero, o Mestre ouviu-o, compadecido, e explicou:
- Olvidaste que, até agora, agiste no comando. Na posição de carpinteiro, modelavas a madeira; lavrador determinava o solo; médico, ordenavas aos enfermos; filósofo arregimentava idéias; músico. Tangias o instrumento; escultor cinzelava a pedra; escritor dispunha sobre as letras; professor instruía os menos sábios que tu mesmo; administrador e legislador interferiam nos destinos alheios. Sempre te emprestei autoridade e recurso para os trabalhos de determinação... Para envergares a capa de santo, porém, é necessário aprender a servir...
A fim de alcançares esse glorioso fim, serás, de ora em diante, modelado, brunido, aprimorado e educado pela vida.
E enquanto o Mestre sorria complacente e bondoso, o discípulo em pranto, mas reconfortado, esperava novas ordenações para ingressar no precioso curso de obediência.
Irmão X
Sobre o Autor
Três meses apenas de desencarnado, Humberto de Campos retornou do Além, através do jovem médium Chico Xavier, este, com 24 anos de idade somente, e começou a escrever, sacudindo o País inteiro com suas crônicas de além-túmulo. O fato abalou a opinião pública. Os jornais do Rio de Janeiro e outros estados estamparam suas mensagens, despertando a atenção de toda gente. Os jornaleiros gritavam. Extra, extra! Mensagens de Humberto de Campos, depois de morto! E o povo lia com sofreguidão... Agripino Grieco e outros críticos literários famosos examinaram atenciosamente a produção de Humberto, agora no Além. E atestaram a autenticidade do estilo. "Só podia ser Humberto de Campos!" - afirmaram eles. Começou então uma fase nova para o Espiritismo no Brasil. Chico Xavier e a Federação Espírita Brasileira ganharam notoriedade. Vários livros foram publicados. Aconteceu o inesperado. Os familiares de Humberto moveram uma ação judicial contra a FEB, exigindo os direitos autorais do morto! Tal foi a celeuma, que o histórico de tudo isto está hoje registrado num livro cujo título é "A Psicografia ante os Tribunais", escrito por Dr. Miguel Timponi. A Federação ganhou a causa. Humberto, constrangido, ausentou-se por largo período e, quando retornou a escrever, usou o pseudônimo de Irmão X. Nas duas fases do Além, grafou 12 obras pelo médium Chico Xavier. "Crônicas de Além-Túmulo", "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", "Boa Nova", "Novas Mensagens", "Luz Acima", "Contos e Apólogos" e outros foram livros que escreveu para deleite de muitas almas.
Referência
Médium: Francisco Cândido Xavier
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