terça-feira, agosto 27, 2013

O quarto de visitas



Alberto, homem esforçado e diligente, trabalhava muito para manter a família, sua esposa Lea e a filha Andreia, de apenas seis anos.
 
Trabalhando no ramo da construção, ele aprendeu bastante, cresceu na profissão e passou a ganhar mais.
Assim, com salário melhor, Alberto conseguiu adquirir um terreno e começou a construir sua própria casa. Sempre que sobrava algum dinheiro,
ele aplicava em material de construção, e trabalhava duro nos finais de semana até construí-la. 
Durante esse tempo, sua mãe faleceu e seu pai, Vitório, agora sozinho, foi morar com o filho, para alegria da pequena Andreia, muito apegada ao avô.
Algum tempo depois, Alberto conseguiu terminar sua casa, que era bem maior e mais bonita do que a antiga. Todos estavam felizes. Com uma casa maior, Alberto precisou comprar mais móveis para preenchê-la.
Tudo era alegria. Havia bastante espaço, teriam um belo jardim e um quintal para o cachorrinho de Andreia. Além de um cômodo, no fundo do quintal, para guardar coisas velhas.
 
Animados, viram chegar o grande dia da mudança. Todas as coisas foram colocadas no caminhão. Todos trabalharam bastante, até Andreia, mas ninguém se incomodou, tão satisfeitos estavam em ir para a casa nova.
Assim, eles chegaram à nova moradia. Novamente, muito esforço para colocar tudo em ordem. Ninguém sabia onde estava nada. Até
que, já de noite, tudo estava mais organizado, pelo menos as camas estavam montadas.
Cansados, arrumaram os quartos para dormir. E o avô, ajudando na arrumação, não sabia ainda onde seria seu quarto. Esperava que o filho lhe dissesse, até que, exausto pelo esforço, Vitório perguntou ao filho:
— Alberto, eu estou cansado e com sono, filho. Onde será meu quarto?
E o filho respondeu sem hesitar:
— Queremos que o senhor fique bem à vontade e tenha o máximo de liberdade, pai. Então, seu quarto será lá no fundo do quintal.
Sem poder acreditar no que estava ouvindo, o velhinho engoliu as lágrimas que teimavam em lhe saltar dos olhos, baixou a cabeça, pegou a mala com suas roupas, e estava saindo pela porta da cozinha, quando Andreia correu até ele e segurou-o, não deixando que saísse.
— Espere, vovô!
Depois, virando-se para o pai, disse com firmeza:
— Papai, se alguém tem que dormir lá fora, então eu irei. Não vou deixar meu avô sozinho lá no fundo. Vovô ficará com o meu quarto! Além disso, quando você era pequeno, quem cuidou de você, dando tudo que precisava? Quem o levou para passear? E se preocupou com você quando estava doente?    
Lea, surpresa ao ouvir as palavras do marido, e, vendo a reação da filha, retrucou:
— Nossa filha tem razão, Alberto! Agora que temos uma casa tão grande, não há espaço aqui dentro para seu pai? É um absurdo! E para quem será, então, o outro quarto que temos?
Alberto pensou um pouco e respondeu, como se só naquele momento percebesse o absurdo que ia cometer contra seu próprio pai.
— Para as visitas!...
Ouvindo aquilo, a esposa considerou:
— Alberto, eu sempre aprendi que devemos “honrar a nosso pai e nossa mãe”. Você não faria isso se sua mãe estivesse aqui conosco. E, afinal, eu também não gostaria que fizessem isso comigo quando tiver mais idade. Você ficaria satisfeito se sua filha agisse assim com você?
 
Alberto ficou vermelho de vergonha e, aproximando-se do pai, abraçou-o:
— Papai, perdoe-me. Não sei onde eu estava com a cabeça quando tomei essa decisão.
Depois, pegando a mala do pai com uma das mãos e abraçando-o com a outra, conduziu-o ao quarto que seria o dele desse dia em diante. 
 
Com imensa alegria, depois de resolvido o problema, eles se abraçaram. Lea convidou-os para tomarem um lanche e fazerem uma oração para comemorarem esse primeiro dia na casa nova.
Sentados em torno da mesa na cozinha, Alberto agradeceu a Deus pela nova casa, onde esperava que todos fossem muito felizes, e também por ter sido impedido de cometer uma ingratidão para com seu pai, a quem ele tanto amava.     

MEIMEI
 
(Recebida por Célia X. de Camargo em 15/7/2013.)

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