Fugindo de si mesmo

Tenho observado muitos casos em que pessoas tentam não "encarar de frente" a realidade. A fuga é um mecanismo por demais conhecido por todos nós, no entanto paramos pouco ou quase nada para refletirmos a respeito da quantidade de vezes que fugimos de nós mesmos para prolongarmos os sofrimentos. O receio de decepção ou o medo da dor, faz com que o indivíduo crie uma verdade subjetiva e assim vá deixando para depois a verdadeira e única realidade sua de cada dia.

Mais comum do que se pensa, a vontade de sair de sua cidade é um dos "sonhos" maiores das pessoas que vivem fugindo. É a chamada "busca pela felicidade" que na em verdade não tem nada de busca e sim de fuga. É a manifestação de desejo de sair de seu mundo como se agindo assim os problemas ficassem, em verdade os problemas serão carregados conosco para onde formos, pois ainda não resolvidos estão no psiquismo e não na cidade, na casa, no bairro ou nos outros.

Tentar não abordar ou pensar nos problemas é outra atitude muito comum, pois espera-se que com essa eles, os problemas desapareçam, na realidade eles irão é tomar proporções maiores, se agigantar pela nossa pequenez de não os equacionar. A instabilidade em todos os campos da vida é também característico de quem tenta fugir de si mesmo. Pessoas que mudam muito de opinião, colecionam relacionamentos, bem começam e melhor terminam cursos, tudo isso pode demonstrar nessa personalidade uma facilidade de desistir, um medo de competir no sentido mais saudável da expressão. Quando falamos em competição nos referimos a superação de obstáculos da própria vida, a competição de si mesmo.

A timidez geralmente se apresenta como um complicador desse desejo de fuga. Para alguém que tenha dificuldade de se expressar é geralmente um tormento ter de fazê-lo. O medo da crítica, dos julgamentos preconcebidos, do que "os outros vão pensar" pode em muitos casos ser o desencadeador dessa fuga de si mesmo. Em muitos jovens o ingresso no mercado de trabalho é tardio, isso em boa parte por conta de fugir do primeiro dia de trabalho, do convívio, o receio do novo, do desconhecido. Não podemos fechar os olhos para a necessidade de refletirmos com profundidade sobre essas fugas da persona humana. Em verdade partindo do princípio da imortalidade da alma, cada ser carrega em sua bagagem espiritual traumas e ou conflitos vividos e eles devem ser ponderados nessa reflexão, todavia devem ser superados para darmos vasão ao progresso, motivo pelo qual retornamos a roupagem terrena. Em muitos casos lidar com a pessoa que vive fugindo de si própria pode parecer estressante, pois essa pessoa tende a ser pessimista, na maioria das vezes introspectiva demais, se fecha para o mundo e as vezes se tranca mesmo dentro do quarto. Poucas sãos as pessoas pacientes que insistem ou tornam a insistir para que outrem "saia do casulo" existencial, então não maioria das vezes se abandona quem está fugindo e ai surge o isolamento social e abandono ou a desistência da pessoa. Em adolescentes a incidência é maior pois que nesse período as descargas hormonais se acham "a flor da pele". Muitos pais conseguem ver quando já ocorre o excesso , outros porém chegam mesmo a ser privados de tocar nas coisas, de entrar no dormitório e principalmente de comentar algo que envolva o nome dos filhos, no entanto acham normal e não atentam para o quadro trágico que começa a se instalar sob seu olhar. 

Esse desejo de fuga pode ter origem numa causa exógena (externa: o término de um relacionamento, uma traição, a falta de êxito no trabalho ou na escola etc). Perdurando por longo ciclo ele pode dar condições para a depressão se instalar, pois a pessoa em fuga de sua realidade é uma presa fácil para as moléstias psíquicas e principalmente para ação obsessiva.

Busquemos frente aos embates da vida o equilíbrio que reajusta, a tarefa que enobrece, o diálogo que sustenta e principalmente a fé que renova nossas atitudes mentais na certeza de que todos os momentos passam, todas as dificuldades cessam e que continuaremos resolutos a vencer limites que em verdade são impostos por nós mesmos. O nosso destino é a felicidade concreta, não a felicidade artificial forjada pelas drogas, pelos gozos meramente terrenos, mas a consciência em paz para com as Leis Divinas.

Jefferson Leite