quinta-feira, julho 25, 2013

Um novo irmão



Certo dia Rafael, de quatro anos, viu um movimento na casa e ficou inquieto.
O pai colocou-o no colo e avisou:
— Meu filho, eu vou levar a mamãe ao médico, mas voltaremos logo.
— Quero ir também! Quero ir também!
— Não, Rafael. Fique com a tia Edir, está bem?
Rafael não ficou satisfeito, pensando: Por que ele não podia ir junto? O que estaria acontecendo com sua mãe?
Sentou no sofá da sala e não saiu de lá até os pais voltarem para casa. Não adiantou a tia Edir convidá-lo para passear, comer um doce, tomar um sorvete. Contra todas as probabilidades, ele nada aceitou, continuando enterrado no sofá.
Ao ouvir a porta da rua se abrir, Rafael correu ao encontro dos pais.
Os pais o abraçaram e, especialmente a mãe o envolveu em seus braços com amor, dizendo:
— Meu filho, você não ficará mais sozinho em casa!
— Não?
— Não. Você vai ganhar um irmãozinho. Não é ótimo?!...
O menino pensou, pensou, pensou. Não tinha gostado muito da ideia. Como Rafael continuasse calado, ela perguntou:
— Afinal, o que achou da notícia de ganhar um companheirinho para brincar com você?
— Gostei.
A mãe não viu firmeza na resposta. Mas a verdade é que Rafael não estava realmente convencido de que seria bom ganhar um irmão. Teria que dividir seus brinquedos, suas roupas, seus livros de histórias, a atenção dos pais e tudo o mais...
Com o passar dos meses, o estado de ânimo de Rafael foi piorando a cada dia. A mamãe o levava para fazer compras... para o bebê. Saíam para escolher um novo berço... para o bebê. Comprar um carrinho... para o bebê. Tudo para o bebê! 
Rafael não aguentava mais. Sempre que a mãe o convidava para sair, era pensando no bebê que ia nascer. Ufa! Que sujeitinho mais chato! Estava atrapalhando a sua vida ainda mesmo antes de nascer. Imagine depois.
 
Certo dia, Rafael estava sentado no tapete da sala brincando com um carrinho, quando a mamãe deu um grito:
— Ai!... Rafael, seu irmãozinho mexeu! Coloque a mãozinha aqui e você vai sentir! Vamos, não tenha medo.
A mãe tanto insistiu que ele levantou-se e foi até perto dela. A mãe pegou a mãozinha de Rafael e colocou-a na sua barriga. O menino sentiu o
calorzinho gostoso que vinha dali. De repente, Rafael sentiu como se fosse um pontapé.
— Mamãe, ele está me chutando. Eu acho que ele não quer que eu ponha a mão nele.
Porém, de repente, Rafael ficou quietinho, bem quietinho. E sem entender como isso se dava, começou a ver o bebê dentro da barriga da mamãe. Ele tinha os olhos fechados e estava com a mão na boca. Foi uma experiência incrível!
 
Surpreso, o menino gritou:
— Mamãe, não é um menino. É uma menina!...
A mãezinha sorriu e explicou:
— Ainda não dá para saber se é menino ou menina, meu filho.
— Pois eu tenho certeza, mamãe. É uma menina!
Estranhamente, Rafael já não tinha ciúme nem raiva do bebê que vinha para tomar seu espaço. Agora ele sabia que o bebê não faria nada disso: não pegaria seus carrinhos, suas roupas, seus livros. Era uma menina e as meninas brincam com coisas diferentes dos meninos!
A mãe estranhou, mas não disse nada. O filho falava com tamanha convicção que ela não quis contradizê-lo. Quinze dias depois, ela foi ao médico e o exame confirmou: era uma menina.
Chegando em casa, a mãe perguntou a Rafael:
— Como você soube que era uma menina, filho?
— Já contei, mamãe. Eu vi uma menina na sua barriga, esqueceu?
— Não, não esqueci, meu filho. Só não entendo como pode saber que era uma menina!
Rafael sorriu e explicou:
— Ah! É porque ela disse que é uma menina, e me disse até seu nome: Maria Clara!...
Emocionada, a mãe abraçou o filho que não poderia ter imaginado essas coisas e resolveu. Nunca se preocupara muito com a imortalidade da alma, nem acreditava em vida após a morte, mas agora precisava começar a pensar no assunto porque a verdade é que ela e o marido, escolhendo o nome para o bebê, haviam resolvido que, se fosse menino seria Álvaro, e se fosse menina, Maria Clara.
Todavia, Rafael não tinha conhecimento dessa decisão dos pais, o que os deixou muito impressionados.
Alguns dias após ela ter conversado com o marido, foram ambos procurar Saulo, um amigo deles que era espírita, e que poderia dar-lhes todas as explicações necessárias.                                         
                                                    
MEIMEI

(Recebida por Célia X. de Camargo, em junho de 2013.)
Revista O Consolador

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