Tema sempre polêmico, mas que demanda muitos estudos por parte de pessoas de diferentes níveis culturais, financeiros etc...a doação de órgãos merece nossa criteriosa observação uma vez que estamos rumando para um novo tempo. Talvez pelo apego das pessoas ao corpo, ainda seja tão difícil parar para pensar em doação de órgãos. Aquilo que simplesmente consiste na remoção de órgãos e tecidos do corpo de uma pessoa recentemente falecida (doador cadáver) ou de um doador voluntário (vivo), com o propósito de transplantá-lo ou fazer um enxerto em outras pessoas também vivas, é bem mais complexo uma vez que requer desprendimento e quebra de paradigmas culturais de uma sociedade que se baseou durante muito tempo nas questões materiais apenas. Muitas pessoas dizem frases desse tipo como muitas vezes já ouvi: " não quero que me cubram o corpo com flores, pois detestarei ver os vermes as devorando em cima de mim", ou ainda: " vou ficar sufocado quando tiver de ser sepultado". Pessoas assim tendem a repelir o assunto de doação de órgãos.
A velha idéia de que somos um corpo que detém uma alma ou espírito, é triste pois nos tornamos presos a essa crença primária de nos preocuparmos como estará nosso corpo depois da morte. Em verdade nós somos uma alma ou espírito que se utiliza de um corpo durante um tempo, mas que deve deixá-lo em determinado momento para seguirmos nosso caminho imortalidade a fora. A idéia de que os órgãos e tecidos são removidos com procedimentos cirúrgicos,muito embora todas as incisões sejam fechadas após a conclusão da cirurgia, também afasta possíveis doadores que temem ter o corpo "danificado" após a morte. Isso ocorre geralmente para que no velório não haja certo constrangimento para a família do de cujus ( ai vemos a preocupação com o corpo). Muito embora pessoas de todas as idades possam ser doadores, geralmente não se utiliza pessoas com idade superior aos setenta anos, justamente pelos desgastes dos órgãos e tecidos. Devido a esses receios de toda forma o número de doadores é no mundo todo bem menor que o de pacientes receptores e dessa forma surge a tão temida fila de espera e em muitos casos a consequente morte desses pacientes.
É bem verdade que em grande parte, a família do doador é tomada de súbito uma vez que quando o desencarne se dá de forma instantânea por acidente ou morte repentina, a família precisa tomar uma atitude rápida e nem sempre se tem a sobriedade necessária para discernir por autorizar ou não a doação. A família é quem decide se órgãos ou tecidos serão ou não doados, independente da decisão do possível doador quando em vida. Então antes mesmo de se identificar como doador é muito importante que se comunique a decisão a família e solicite que sua vontade seja respeitada em caso de óbito repentino. Segundo o Ministério da Saúde em 2012 mais de 80 mil brasileiros já se declararam doadores de órgãos por meio de uma ferramenta na rede social Facebook. Segundo a Agência Brasil, a parceria foi firmada em julho do ano supracitado, com o objetivo de ampliar o número de doadores no país. Como vemos, é a internet a serviço do bem conscientizando a sociedade. No Brasil, o perfil da doação se desenha de forma que a grande maioria segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), dos doadores morreram vítimas de AVC. Vale lembrar que temos cada dia um número maior de vítimas de acidentes de trânsito, uma gama de possíveis doadores.
Para se tocar no assunto familiar com relação a doação de órgãos é muito complexo, uma vez que para os mais supersticiosos falar em doação é "atrativo para a morte". Lembro-me de uma tia minha que não aceitava de forma alguma que alguém fizesse planos funerais, pois na visão dela isso era um "agouro" e antecipava a morte. Só para constar, ela nunca fez um desses planos, mas desencarnou do mesmo jeito. Não podemos esquecer que a renúncia é fundamental para se tornar um doador e também para aceitar doar os órgãos dos que amamos e mais que isso, ajudar a salvar vidas. Quem doa órgãos, realmente doa vida e muitos familiares acabam se consolando ao serem úteis em ajudar a minorar os sofrimentos daqueles que durante muitos anos esperam por um transplante. Diversos familiares que experimentam a doação de órgãos relatam posteriormente que sentem seus familiares vivos na vida do transplantado e mais, podemos afirmar que o doador terá a satisfação de que seus órgãos serviram a outrem e que mesmo morrendo o corpo, foi útil e seguirá mais feliz para a verdadeira vida imortal.
Jefferson Leite
Jefferson Leite
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