domingo, abril 21, 2013

O que oferecemos aos outros



 
Nelinho viu, caminhando pelas ruas da cidade, um grupo de rapazes bem mais velhos do que ele, cuja aparência lhe chamou a atenção. Eram carecas e andavam vestidos de preto, cobertos de correntes e metais, brincos epiercings.  
Mais do que a aparência física deles, chamou-lhe a atenção a atitude de determinação, de coragem. Mantinham as cabeças erguidas, como se não temessem nada, nem ninguém.   
Aquele grupo encantou Nelinho, que atravessava problemas na escola por achar que os colegas não gostavam dele e nem o respeitavam. Então, resolveu que seria como eles. Iria impor respeito a todos os colegas.   
Assim, ao entrar em casa, pediu: 
— Mamãe, eu preciso comprar algumas coisas para a escola. Pode me dar o dinheiro que o vovô me deu e que a senhora guardou? 
A mãe, solícita, respondeu: 
— Claro, meu filho! Mas posso saber o que vai comprar? 
— É segredo. Depois eu conto. 
— Está bem, Nelinho — concordou a mãe, pegando o dinheiro e entregando-o ao filho. 
Contente, ele agradeceu e saiu. Voltou um tempo depois com algumas sacolas e foi para o seu quarto. A mãe o viu chegar com os pacotes, mas não disse nada.  
Uma hora depois Nelinho apareceu na sala. A mãe quase desmaiou de susto! 
— O que é isso, meu filho?!...  
— Gostou, mãe? É assim que vou me vestir de hoje em diante.  
Ela olhou o menino sem poder acreditar no que estava vendo: Nelinho tinha rapado a cabeça, que estava sangrando, cheia de pequenos cortes; estava todo vestido de preto, com cinto de correntes de metal e nas orelhas tinha brincos.  
A mãe caiu sentada numa poltrona, perplexa, e mal conseguiu gaguejar: 
— Por quê... por que isso, meu filho? 
E o garoto, abrindo os braços, explicou: 
— Ah, mãe! Na escola os colegas não me respeitam! Fazem pouco caso de mim e riem do meu jeito. Agora eles vão ter que me respeitar!...  
Tudo o que ele dizia vinha acompanhado de palavrões. Horrorizada — pois o filho sempre fora um bom menino —, ela pensava o que fazer para convencê-lo de que não era a mudança da roupa ou das palavras que faria seus colegas gostarem mais dele. 
Nelinho foi para a escola todo orgulhoso das roupas novas e da mudança de atitudes.  
A mãe, ainda em choque, continuou pensando no problema até que, finalmente, tomou uma decisão.   
Mais tarde, o pai e a irmã mais velha de Nelinho chegaram em casa e, ao vê-lo, ficaram igualmente assustados, mas a mãe fez-lhes um sinal e agiu com naturalidade.  
Tinha preparado o jantar como sempre. Naquela tarde fizera uma sopa de legumes, que todos apreciavam. Quando a colocou na mesa, todos reagiram, a começar de Nelinho que estava faminto: 
— Mãe! O que é isso? O cheiro não está bom!...  
— Está diferente!... — fez a irmã com uma careta.  
O pai permaneceu calado, embora também não tivesse gostado. Com tranquilidade a mãe esclareceu:
— O Nelinho resolveu dar às pessoas o que tem de pior: nas roupas, no comportamento,  nas palavras. Então, resolvi que podemos também alimentar nosso corpo com alimentos não tão gostosos como temos sempre.  
— Por favor, mamãe! Não quero tomar essa sopa!...  
— Mas você resolveu dar o pior se si às pessoas, meu filho. A começar pelos palavrões que agora está usando! Então, achei que iria gostar se a nossa refeição acompanhasse seu novo modo de ser.  
O menino pensou um pouco e, envergonhado, acabou por confessar: 
— A senhora tem razão, mamãe. Hoje, na escola, os colegas caçoaram de mim, riram das minhas roupas e do meu jeito, dizendo que gostavam de mim como eu era antes.          
Ele passou a mão na cabeça, constrangido, e considerou: 
— Quanto às roupas e aos brincos, é só tirar. Mas não sei o que vou fazer agora que estou careca!... 
A mãe abraçou-o com carinho, consolando-o: 
— Isso é o de menos, meu filho. Cabelos crescem rápido! Essa lição, porém, é importante para você entender que existem coisas e atitudes que não vamos poder mudar tão facilmente e, se o fizermos, teremos que sofrer as consequências. Por isso, as nossas decisões devem ser bem pensadas.  
O menino sorriu admitindo: 
— Eu sei, mãe. Mas tudo isso serviu para que eu entendesse que meus colegas gostam de mim, sim. Eu é que não sabia disso!...  
Felizmente a situação fora resolvida, mas aquela sopa rala, sem tempero, continuava sobre a mesa e estavam todos com fome. A mãe sorriu olhando os entes queridos e acalmou-os:  
— Não se preocupem. Tudo está sob controle. 
Auxiliada pela filha, ela retirou os pratos da mesa, levando-os para a cozinha. Depois, voltou com uma linda torta salgada que ela tinha preparado e guardado no forno.  
Como de hábito, pediram as bênçãos de Jesus
para a refeição que tinham na mesa e, com sorriso satisfeito, puseram-se a comer.  
Nelinho respirou aliviado. Graças a Deus, tudo estava bem de novo. Nunca mais iria esquecer aquele dia nem a lição, que com certeza lembraria por toda a vida.   
                                                        
MEIMEI
 
(Célia X. de Camargo, Rolândia-PR, em 17/10/2011.) Revista O Consolador

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