segunda-feira, abril 22, 2013

Alma


 Augusto dos Anjos
  
Nos combates ciclópicos, titânicos,
Que eu às vezes na Terra empreendia,
Nos vastos campos da Psicologia,
Buscava as almas, seres inorgânicos;

Nas lágrimas, nos risos e nos pânicos,
Nos distúrbios sutis da hipocondria,
Nas defectividades da estesia,
Nos instintos soezes e tirânicos,

Somente achava corpos na existência,
E o sangue em continuada efervescência
Com impulsos terríficos e tredos.

Enceguecido e louco então que eu era,
Que não via, dos astros à monera,
As luzes dalma em trágicos segredos.


Augusto dos Anjos nasceu na Paraíba em 1884 e desencarnou em 1914 na cidade de Leopoldina (MG). Foi professor no Colégio Pedro II. Inconfundível pela bizarria da técnica bem como dos assuntos de sua predileção, deixou um só livro — Eu — que foi, aliás, suficiente para lhe dar personalidade original. O soneto acima integra o livro Parnaso de Além-Túmulo, obra Francisco Cândido Xavier.

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