sexta-feira, abril 05, 2013

A força da compreensão




Um brinquedo de Jonas havia desaparecido. 
Irritado, suspeitando que seu irmão Lucas, de apenas três anos de idade, era o culpado, gritou:

— Lucas, devolva meu carrinho vermelho novo.
— Não sei onde está. Não peguei seu carrinho — respondeu o pequeno.
— Pegou sim. Diga onde você o escondeu, Lucas!
Mas o garotinho repetia, batendo o pé no chão e chorando:
— Não peguei, não peguei, não peguei.
Ao ver a confusão armada e Lucas em prantos, a mãe pega o pequeno no colo e diz ao filho mais velho:
— Jonas, meu filho, você já tem onze anos e não pode ficar brigando com seu irmãozinho. Se Lucas disse que não pegou, acredite. Procure direito e acabará encontrando seu brinquedo.
Bufando de raiva, Jonas sai da sala e começa a procurar o carrinho. Procurou no quarto de dormir, no quintal, na varanda, na sala e até no banheiro. Nada de encontrar seu brinquedo preferido.
Sem saber mais onde buscar, Jonas entrou no escritório e, olhando para a estante de livros do seu pai, pensou: Só pode estar aí!
Retirou todos os livros da estante.
Quando o pai chegou, ao entardecer, levou um susto. Encontrou Jonas perdido no meio dos livros, desanimado.
— O que aconteceu, meu filho? — perguntou, espantado.
— Estava procurando meu carrinho, papai.
— No meio dos meus livros? E você o achou?
— Não, papai.
— Bem. Então, agora coloque os livros no lugar.
— Mas, papai! Estou cansado! — reclamou o garoto, fazendo uma careta.
Com muita paciência, o pai considerou:
— Jonas, foi você que fez essa bagunça. Logo, é você que deve arrumar tudo, colocando os livros no lugar! Pode começar já, caso contrário não terminará até a hora de dormir.
Eles não viram que o pequeno Lucas tinha entrado, se escondido atrás da mesa, e ouvia a conversa.
Assim que o pai saiu da sala, Lucas se prontificou com seu jeitinho:
— Quer ajuda, Jonas?
Com uma grande pilha de livros nos braços, que mal podia carregar, o irmão respondeu mal-humorado:
— Você?! Saia daqui, pirralho! Você não tem força para levar livros tão pesados. Agora me deixe trabalhar!
Não demorou muito, Jonas estava exausto. Resolveu parar um pouco para descansar e tomar um lanche, mas estava tão cansado que se sentou no sofá da sala, diante da televisão, e acabou cochilando.
Ao acordar, levou um susto!
"Meu Deus! Eu adormeci e não acabei de arrumar os livros do papai!"
Correu para o escritório e teve uma grande surpresa.
Parecia um milagre! Apesar de um pouco desalinhados, os livros estavam todos no lugar!
— Quem terá feito isso? — perguntou baixinho, sem poder acreditar.
Uma voz alegre e cristalina respondeu:
— Fui eu!
Era Lucas, satisfeito com seu serviço, carregando o último livro.
— Como você conseguiu fazer isso, Lucas? Eles são muito pesados! Como pôde carregar uma pilha de livros?
— Ora, não carreguei uma pilha de livros. Levei um por um!
Jonas fitou o irmão, admirado do trabalho que ele tinha realizado. Compreendeu que menosprezara a ajuda do pequeno Lucas julgando-o incapaz. No entanto, o irmãozinho provara que podia realizar aquela tarefa. Certamente, não conseguiria levar um peso grande, mas tinha usado a cabecinha e transportado os livros aos poucos.
Jonas aproximou-se do irmão e abraçou-o com carinho.
— Lucas, hoje você me mostrou que sempre podemos realizar aquilo que desejamos. Basta que tenhamos boa vontade e criatividade. Obrigado, irmãozinho.
Os pais, que passavam naquele momento e pararam para observar a cena, também ficaram satisfeitos ao ver os irmãos abraçados e em paz.
Sorridente, a mãe considerou:
— Para que a lição seja completa ainda falta uma coisa, Jonas. Lembra-se do seu carrinho vermelho? Pois eu o encontrei, meu filho. Estava no meio das suas roupas, no armário.
Corando de vergonha, Jonas virou-se para o irmão e disse:
— Lucas, nem sei como me desculpar pela maneira como agi. Por duas vezes hoje eu o julguei mal e errei. Além disso, você mostrou que é pequeno no tamanho, mas que tem um grande coração. Apesar de ter sido maltratado por mim, suportado o meu mau humor, minha irritação, esqueceu tudo e, quando viu que eu estava em apuros, ajudou-me com alegria, realizando uma tarefa que era minha. Você pode me perdoar?
O pequeno abraçou Jonas com um largo sorriso:
— Claro! Você me leva para passear amanhã?


Todos riram, satisfeitos por fazerem parte de uma família que tinha problemas como qualquer outra, mas que acima de tudo era feliz, porque existia compreensão, generosidade e amor entre todos.
                                                                                 

(Célia X. de Camargo)  Revista O Consolador                

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