domingo, março 24, 2013

Vida nova



Carlos era um menino muito pobre. Sua família era honesta e boa, mas passava sempre por muitas privações.  
Quando Carlos reclamava, seu pai, que era um homem de fé, respondia:
− Meu filho, o pouco com Deus é muito para nós. Mais vale ter paz de espírito do que viver
atormentados no mundo. Tenha fé, tudo vai mudar. Vamos confiar em Jesus.
− Mas, papai, o senhor podia arranjar outro emprego! O nosso vizinho disse que vão se mudar para uma casa melhor porque o pai dele agora arranjou um novo emprego.
 − Eu sei, filho. Porém, nosso vizinho estudou e eu não. Preciso contentar-me com o que posso fazer− respondeu o pai, pesaroso.  
Revoltado diante dessa situação, Carlos cresceu decidido a mudar sua vida. Alguns anos depois, seus pais faleceram e ele deixou sua cidade natal e foi para uma cidade grande. Trabalhou muito para pagar seus estudos, mas sentia-se vitorioso. Tornou-se advogado e começou a trabalhar em um escritório de advocacia.
Trabalhando, logo o dinheiro começou a chegar aos montes. Carlos aceitava qualquer serviço, mesmo que não fosse muito correto.
Assim, ele enriqueceu. Casou-se e constituiu uma família; um casal de filhos veio alegrar o seu lar. No entanto, Carlos trabalhava muito, não tinha horário para o merecido repouso e, não raro, durante a noite, era chamado para atender um cliente que fora preso.
Os recursos continuavam a chegar, abundantes. Agora, eles moravam em bairro nobre da cidade, em um verdadeiro palacete. Por necessidade de maior segurança, tiveram de proteger os muros, que já eram altos, com sistema de alarme.
Agora, sentiam-se mais protegidos contra assaltos, porém, pelo tipo de trabalho que Carlos exercia, precisou também contratar seguranças para ele, para a esposa e para os filhos.
Apesar da bela casa e de todas essas providências, ninguém estava feliz! Os filhos reclamavam que não podiam brincar livremente com seus amigos. A esposa reclamava que, apesar da linda piscina, não conseguia tomar sol durante o dia e, à noite, não conseguia ver o céu estrelado naquela cidade onde a poluição cobria tudo.
− Do que é que vocês estão reclamando? – ele retrucava inconformado – Afinal, agora temos tudo que poderíamos desejar! Somos invejados por todas as pessoas. Meus pais, se ainda fossem vivos, com certeza teriam orgulho de mim!
A esposa e os filhos baixavam a cabeça, conformados, pois não adiantava contradizê-lo. 
Todavia, no fundo, Carlos também não se sentia feliz. Era pressionado de todos os lados. Os figurões, políticos e até bandidos que eram seus clientes não lhe davam paz e faziam ameaças. Pagavam bem, porém exigiam que ele esquecesse o respeito próprio e a dignidade para fazer-lhes as vontades.
Certo dia, Carlos sonhou com seu velho pai que o fitava com profunda piedade e dizia:
− Você sente-se um vitorioso, meu filho. Conseguiu o que queria. Está feliz agora?
Carlos sentiu reprovação nos olhos do pai, mas também muita compaixão.
− Não, papai. Não estou feliz – reconheceu, inclinando a cabeça e deixando que lágrimas amargas corressem pelo seu rosto.
− Pois então, meu filho, sempre é tempo de mudar. Nas horas de dificuldade, não se esqueça do Senhor, que está sempre pronto a acolher-nos em seus braços amorosos. Confie!

Na manhã seguinte, Carlos acordou com a certeza de que precisava mudar de vida. Não se recordava do sonho, mas os conselhos do pai ficaram gravados em sua mente.
Sentou-se à mesa do café da manhã mais animado. A esposa e os filhos estranharam.
− O que aconteceu, querido? Você está diferente hoje! – indagou Clara.
− Estou com algumas ideias na cabeça. Creio que vocês irão gostar. Mas é surpresa!
Chegando ao luxuoso escritório, Carlos começou a tomar providências, telefonou para alguns contatos e durante aquele dia inteiro não atendeu nenhum cliente.
 
Uma semana depois ele convidou a família para fazer curta viagem. Misterioso, disse apenas que iriam visitar sua cidade natal.
Chegando ao destino, uma pequena e simpática cidade do interior, Carlos levou-os pelas ruas, pacatas e tranquilas;
mostrou-lhes os locais mais importantes, o comércio, o clube e a escola. Depois, tomando a direção de um bairro residencial, parou diante de uma casa simples, mas confortável. À entrada, belo jardim florido os recebeu.
Clara perguntou curiosa: − De quem é esta casa, querido?
O marido convidou-os a entrar, fingindo não ouvir a pergunta. Tirou a chave do bolso e abriu a porta.
A casa, grande e espaçosa, era um primor de bom gosto. Andaram pelos cômodos, salas, quartos, banheiros, copa, cozinha. Depois de conhecerem o interior, foram para o quintal, que encantou os garotos. Vendo que a família tinha gostado, Carlos esclareceu:
 
− Esta casa é nossa! Comprei para nós morarmos. Aqui, meus filhos, vocês poderão brincar com os amigos, sua mãe poderá caminhar pela cidade sem problema algum. Tudo com liberdade. Aquela escola é onde vocês vão estudar; é muito boa! Além de todas essas vantagens, ainda poderemos ver o céu sempre azul!
− E o seu escritório, querido?
− Vendi minha parte para os colegas. E já consegui um bom ponto para abrir
meu próprio escritório. Aqui, terei menos trabalho, porém mais dignidade e respeito íntimo. Além disso, podemos colaborar na comunidade, ajudando entidades necessitadas, como você sempre sonhou, querida. Isto é, se vocês aprovarem! – disse ele, feliz e aliviado.
Os quatro se abraçaram contentes. Vendo a aprovação no sorriso deles, com lágrimas nos olhos, Carlos murmurou:
− Sinto que meus pais também devem estar felizes com estas mudanças. Graças a Deus, teremos uma vida nova daqui por diante, com as bênçãos de Jesus. Voltaremos para a cidade grande só para arrumar nossas coisas e trazer a mudança. Aqui, seremos felizes, tenho certeza!

                                                      MEIMEI

(Recebida por Célia X. de Camargo em Rolândia-PR, aos 4/03/2013.)

Fonte: Revista Semanal O Consolador

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